Namoro: vivência perdida por causa da sociedade? (PARTE I)
Neste artigo, desejo trilhar um caminho que favoreça o discernimento de muitos jovens e adultos a respeito de uma grandiosa vocação: o matrimônio. Grandiosa porque foi querida por Deus; grandiosa porque é capaz de gerar todas as outras vocações; grandiosa porque Cristo a elevou a sacramento e associou a sua entrega à Igreja, fruto do amor por nós (cf. Ef 5). Portanto, quero alertá-los acerca do modo como tem sido discernida tal vocação.
Na narrativa da Criação, assim como vemos no livro do Gênesis (cf. Gn 1–2), Deus criou o homem e a mulher; criou-os à sua imagem e semelhança, e instituiu a diferença sexual como algo natural querido por Ele. Tal diferenciação revela a dinâmica da complementariedade; é o meio através do qual se tornam uma só carne: a graça de gerar vidas e educá-las; tamanha é a dádiva do Senhor aos homens: poder cooperar na obra da Criação.
Iniciemos o nosso caminho por algo simples: quando um jovem escuta dos pais ou avós a respeito de como vivenciaram o namoro, imagino que a experiência que viveram é bem contrastante com o namoro de hoje; poderíamos dizer: era muito rígido! Não se podia manifestar demasiado afeto publicamente, e tantas outras coisas mais. Contudo, ao analisarmos o namoro atual, questiono-me: Porque houve tão grande mudança? Será que a experiência do namoro evoluiu? Ou melhor, o namoro ainda é necessário ou não tem mais sentido, visto que muitos namorados vivem como se já estivessem casados?
Em tempos remotos, a prudência, o pudor, o respeito mútuo estavam mais em voga na sociedade, entretanto, qual foi à mudança sofrida pela sociedade moderna? Penso em duas coisas: o hedonismo e o materialismo. Estamos numa sociedade marcada pela sensualidade e pela obtenção de bens que meramente deem prazer. Estas mudanças são fruto do pecado que marcou as faculdades do nosso ser, e também das feridas de famílias, onde a fé e o desenvolvimento dos valores cristãos foram abandonados e a unidade e indissolubilidade do matrimônio e da família, na vivência do amor, foram negligenciadas, ou, até atingidas de maneira irremediável, produzindo no meio de nós gerações marcadas pela dor, insegurança, desvios afetivos, psicológicos e sociais.
Primeiramente, percebamos como as crianças de hoje se comportam e se vestem; tudo isso ocasionado muitas vezes pelos pais, que em nome da moda, vestem as crianças com roupas curtas. Talvez uma mãe venha comentar sobre sua filha: “já é uma mocinha”; um pai faz o mesmo ao ensinar comportamentos de um “homem” a seu filho, assim ele diz: “esse é macho”. Aqui evidencio o perigo dessa educação: crianças que perdem a infância, manipuladas por afetos e instintos; substituem os brinquedos pela beleza estética, descobrem precocemente o corpo e tornam-se maliciosas. Em muitos casos, pela própria família, ao atingir a puberdade são também motivadas a procurar um namorado (a) para provar a masculinidade ou feminilidade.
Outro ponto é o materialismo. Talvez você venha a se questionar: qual a relação do materialismo com o namoro? O materialismo pode obscurecer nossa relação afetiva e também sexual, podemos correr o risco de pensarmos o outro como um bem adquirido; conceber o homem ou a mulher como objetos, ou seja, como mero objeto de prazer. Portanto, podemos fazer a ligação do materialismo com o namoro, voltando ao prisma do hedonismo, pois “o homem perdeu o olhar interior que tinha na inocência original, pelo qual era capaz de ver, para além das aparências exteriores, o conjunto da pessoa exprimida pelo corpo”.
Contudo, voltemos à questão anterior: o namoro é necessário ou não? Pois bem, o namoro é necessário! O verdadeiro namoro, o namoro vivido com pudor, na busca da santidade e castidade, um namoro que venha ensinar ao casal a via da amizade, do respeito mútuo. Este namoro nunca saiu de moda!
Agora pergunto: o “namoro” que muitos hoje vivem é de fato o namoro cristão, um itinerário para a construção de uma família querida por Deus?
Respondo: Muito provável que não.
Em breve veremos neste mesmo site como podemos resgatar o sentido originário do namoro cristão. Lembrem-se amigos, fazer a vontade de Deus é a nossa meta, corrigir nossos maus comportamentos deve ser o nosso projeto. Que Cristo abençoe e santifique o namoro dos jovens de nossa nação.
Diácono Wellington Rosa de Souza
