Desvendando Mitos: A Inquisição
“Há milhões de pessoas que odeiam o que erroneamente supõe o que seja a Igreja Católica.”
(Venerável Fulton Sheen).
Muito se fala sobre a Inquisição, mas pouco se estuda, de fato, sobre ela. É comum ouvir dos professores de história, sobretudo aqueles que seguem a linha marxista e utilizam suas aulas não tanto para ensinar desinteressadamente, mas como ocasião de panfletagem política e perseguição da Igreja e de outras instituições fundamentais para o desenvolvimento e a construção da humanidade, como, por exemplo, a Família, que a Inquisição é uma grande mancha no passado da Igreja, a fim de lhe atribuir certo descrédito. Nós, católicos, temos por obrigação estudar e conhecer a História da Igreja, para que possamos nos posicionar diante de tantos absurdos que são falados. A inquisição da Igreja se deu em dois momentos: a inquisição medieval (séc. XIII), contra o catarismo; a inquisição romana (séc. XV), contra as heresias protestantes e a inquisição espanhola (séc. XV e XVI), a fim de restabelecer o catolicismo pleno, após a dominação muçulmana.
A INQUISIÇÃO MEDIEVAL
Primeiramente, precisamos levar em conta o contexto social da época antes de tentarmos chegar a uma resposta sobre o que foi a Inquisição. É preciso levar em consideração também que existiram três tipos de inquisição: a política, que foi a inquisição dos civis, feita pelo Rei; a inquisição católica, que recebeu apoio do Papa, mas diverge muito da inquisição civil e, por fim, a inquisição protestante. Embora não se fale muito sobre ela, a inquisição protestante foi um fato e muitos católicos foram perseguidos e mortos por ela. A partir deste ponto, já se revela uma das diversas mentiras a respeito deste tema.
A inquisição foi, primeiramente, uma defesa do próprio povo contra os hereges cátaros. O catarismo era uma seita cuja doutrina contrariava todos os princípios evangélicos que a Igreja defendeu desde sempre. Foi uma das maiores ameaças à fé cristã de todos os tempos: os cátaros eram contra a procriação e o Matrimônio, consideravam desgraçadas as grávidas, defendiam o suicídio por inanição, pregavam a renúncia radical aos prazeres e negavam o culto religioso. Viam o corpo como uma coisa ruim (uma manifestação do mal), e negavam a salvação por Jesus Cristo [1]. Os cátaros ensinavam ainda que o mundo material tinha sido criado por um deus mal e que, por isso, o homem não devia se reproduzir. Segundo autores, chegavam a sacrificar mulheres grávidas com punhaladas no ventre. O aborto e o suicídio eram alguns dos seus princípios básicos [2].
Sendo assim, a primeira inquisição que existiu foi a civil, também chamada de inquisição política. O próprio povo sentiu necessidade de se defender dos hereges cátaros, e começaram a fazer “justiça” com as próprias mãos. A Igreja, vendo que isso não era certo, decidiu intervir, pois via a morte de inúmeras pessoas sem que elas tivessem a oportunidade de se defenderem, pois as pessoas vinham sendo condenadas à fogueira ou ao carrasco meramente mediante a denúncia de que eram hereges. Assim, a Igreja fundou a inquisição católica e o Tribunal do Santo Ofício foi estabelecido. Mas é preciso frisar que a inquisição da Igreja não andava sozinha, mas juntamente com a lei civil.
A inquisição da Igreja, neste contexto do medievo, diferentemente da inquisição política, feita pelos civis, não condenava à morte física, mas sim à morte espiritual, conhecida como excomunhão. Então, como resultado do processo inquisitorial da Igreja, não se aplicavam penas de morte físicas, mas a pena de morte a que se referia, na época, era a morte da alma. Na obra Malleus Maleficarum, isto é, Martelo das Feiticeiras, conhecido também como o manual do inquisidor, nós podemos comprovar esta verdade.
A INQUISIÇÃO ROMANA
Quanto à Inquisição Romana, instituída no Séc. XVI, por volta de 1542, esta foi herdeira das leis e da mentalidade da inquisição medieval. Foi criada em Roma e tinha o objetivo de julgar as heresias advindas do protestantismo que avançava pelos países da Europa. Muitos padres, até monges, começaram a se tornar protestantes. A Inquisição, nesse sentido, foi instituída para julgar essas heresias. Galileu Galillei foi julgado pela inquisição Romana e foi condenado erroneamente. Contudo, sua condenação não foi à pena de morte. A inquisição romana também foi instituída a pedido de muitos civis da época, e da lei civil que decorriam as penas físicas. Igreja matava e castigava, mas espiritualmente, não fisicamente. O Código de Direito Canônico, na época, previa que os clérigos respondessem diante da Igreja e que os leigos fossem entregues aos tribunais seculares. Assim, muitos dos leigos considerados hereges foram mortos fisicamente nos tribunais do Estado, pois as penas físicas, como já dissemos, decorriam da lei civil, não da lei eclesiástica. A Igreja, embora desse abrigo a essas pessoas, como deu abrigo a Lutero – e aqui podemos guardar este assunto para um outro artigo -, não poderia interferir nas condenações dos tribunais do Estado. Lutero foi um dos que foi abrigado pelo mosteiro a fim de fugir da morte em razão de suas heresias. A Igreja via e falava sobre os erros dos processos inquisitoriais praticados pelos civis. A Igreja tanto não concordava com os abusos que em seu manual sobre a inquisição, como já citamos, em momento algum são citadas permissões de penas físicas.
A INQUISIÇÃO ESPANHOLA
Ocorrida entre os séculos XV e XVI, a inquisição espanhola foi, na verdade, mais uma inquisição civil do que uma inquisição eclesiástica. Depois sete séculos de dominação muçulmana, em 1442, os reis Fernando de Aragão e Isabel de Castela, conseguiram unificar a Espanha. Por serem católicos, eles queriam uma Espanha cristã e exigiram do Papa que autorizasse uma inquisição. O Papa, contudo, não quis autorizar, pois sabia que uma inquisição longe de Roma ficaria mais sujeita ao domínio dos reis do que da Igreja, e com isso poderiam acontecer coisas erradas.
Contudo, o Papa teve de autorizar, pois os Reis católicos da Espanha ameaçaram separar a Espanha da Igreja, caso a inquisição não fosse autorizada. Não havia alternativa, afinal, a Espanha era a maior porção católica do mundo, pois grande parte da américa era espanhola, e a Igreja já havia perdido alguns países da Europa com o avanço do protestantismo. Daí, podemos concluir o sofrimento dos Papas na história da Igreja, a fim de manter vivo o catolicismo.
No caso da inquisição espanhola, o papa teve de optar pelo mal menor. Ou perdia a força do catolicismo em Portugal e Espanha - e talvez em toda a América -, ou aprovava a inquisição, mesmo sabendo que alguns abusos poderiam ocorrer. Esta atitude de escolher o mal menor é totalmente aprovada pela moral católica. São Tomas de Aquino disse: "É muito mais grave corromper a fé, que é a vida da alma, do que falsificar a moeda que é um meio de prover à vida temporal Se, pois, os falsificadores de moedas e outros malfeitores são, a bom direito, condenados à morte pelos príncipes seculares, com muito mais razão os hereges, desde que sejam comprovados tais, podem não somente ser excomungados, mas também em toda justiça ser condenados à morte." [1].
Sendo assim, podemos ver que todos os inquisidores agiram segundo a moral da época. Dentre os Santos e os Beatos, temos muitos que foram inquisidores.
CONCLUSÃO
Podemos finalizar com a conclusão de que o grande valor do homem medieval não era o corpo, mas a alma, diferentemente do homem moderno. Tendo como grande valor da natureza humana a alma, o homem medieval construía Igrejas, realizava cruzadas e promovia a inquisição. O grande valor que motivava esses homens era a fé, o anuncio da Verdade. Santo Agostinho tem uma citação muito forte, que nos diz: já que o Estado pune o adultério, deve punir também a heresia, pois não é pecado mais leve a alma não conservar fidelidade a Deus do que a mulher trair o marido. Os infiéis não devem ser obrigados a abraçar a fé, mas os hereges devem ser punidos e obrigados ao menos a ouvir a verdade [2].
São João Paulo II, quando pediu perdão pelas mortes ocorridas na inquisição, disse claramente: perdão pelas coisas que os homens da Igreja fizeram. A igreja é santa. Os homens que se utilizaram de um poder de maneira imprópria, fazendo aquilo que não era certo, não pode ser colocado na conta da Igreja.
Nós, católicos, temos a obrigação de escutar o que a Igreja nos fala, o que ela nos ensina, ao invés de nos contentarmos com os ensinamentos dos nossos professores de História, que querem propagar a ideia de que a inquisição é uma mancha na história da Igreja. Por fim, precisamos estudar e procurar saber, inclusive, sobre o grande número de católicos que também foram mortos pela inquisição protestante. Assim, nunca nos envergonharemos do passado da nossa Igreja, mas sim nos surpreenderemos com positivamente com ela, pois sempre foi e sempre será SANTA!
Santa Joana D’Arc, rogai por nós!
Thyell Mattos
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[1] Suma Teológica II/II 11,3c.
[2] Epist. 185, n. 21, a Bonifácio.

